quarta-feira, 15 de outubro de 2008

A chave para enfrentar a crise e avançar na integração Latino Americana - por Alcides dos Anjos Leitão (Jesus)

Concordo com os que teorizam sobre a crise financeira quando dizem que há certo consenso de que ela é profunda e quando afirmam que o capital financeiro esmerou-se em criar uma gama incalculável de "produtos intangíveis", ou "derivativos" *tendo como principal estímulo a política de evitar que seus mercados de trabalho se dessem conta do processo real em curso, o capital financeiro ultrapassou todos os limites especulativos.

"Pela primeira vez o capitalismo enfrenta uma crise global sem adversário. Não há movimento social e político de importância a confrontar o capital e a sua forma de distribuir a riqueza. E, nesse momento, a premissa de toda encenação desmorona: não há harmonia preestabelecida entre capitalismo e democracia", pontua trecho do texto "E agora, liberais?" de Marcos Severino Nobre, publicado no jornal Folha de São Paulo, do dia 30 de setembro.

Nada é mais deletério do que o discurso histérico que desvia a atenção do que deve ser feito e procura criar um sentimento oposicionista, irresponsável e derrotado. É necessário garantir a baixa dos juros, investindo recursos na agricultura e na exportação, estimulando o produtivismo e protegendo os ganhos sociais. *Aqui no Brasil existem as condições, se tivermos juízo e unidade, para enfrentar a crise e minorar seus efeitos daninhos.

Meu objetivo aqui é o de tecer algumas considerações, sem rigor sistemático e apenas com a intenção de contribuir para o debate que tem origem nos EUA, mas abarca todo o sistema financeiro mundial. Não tenho a pretensão de fazer uma reflexão interna sobre os mecanismos de gestão da crise da chamada Ciência Econômica, mas do enfrentamento político a ela e o papel que joga a juventude e o movimento estudantil latino-americano.

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, afirmou dia 30 de setembro ao chegar a Manaus, onde participou de uma cúpula com os mandatários do Brasil, Bolívia e Equador, que o Banco do Sul deve ser ativado para enfrentar a crise financeira, "Devemos fortalecer nossos bancos centrais, nossos fundos de investimento, avançar em convênios multilaterais", afirmou Chávez.

Diria que essa opinião nos coloca um passo a frente da integração, da sonhada integração continental, mesmo sabendo que é ainda mais profunda e complexa sua completa realização e se é verdade que ela nos posiciona na condição "ofensiva" para superar a crise, então, a juventude e os estudantes precisam ir para ofensiva também no que diz respeito a outras iniciativas e atitudes.

Em toda a sua história, o movimento estudantil latino-americano sempre teve na luta pela reforma universitária uma de suas importantes bandeiras. Vivemos o marco dos 90 anos da reforma de Córdoba e mais uma vez se apresenta com força o debate sobre a reforma universitária em toda América Latina. A UNE também atualiza sua opinião sobre a universidade. Constrói e coloca para a sociedade o seu projeto de um novo ensino superior e concepção de universidade. Esse é um tema que precisa avançar em nossa região e é papel dos estudantes forçarem este avanço e tornarem-se protagonistas como sempre foram na história e hoje do processo de integração continental.

Assim como a temática da reforma universitária tem várias outras que podemos assumir como nossa responsabilidade. A cultura e em particular a trienal de arte latino-americana da OCLAE precisa ser encarada como um importante espaço de integração cultural, e por ser realizado no Brasil aumenta a responsabilidade dos estudantes brasileiros, o Fórum Social Mundial, a agenda da OCLAE e os fóruns do movimento estudantil de um modo geral necessitam pautar seu papel nas lutas pela integração política, educacional, cultural e econômica da América Latina.

Nosso desafio é construir argumentos tangíveis capazes de reposicionar o povo de maneira organizada para confrontar o capital e sua forma de distribuir a riqueza, tornando-se o "movimento" social e político de importância e força para tal.

A palavra chave é unidade. Unidade na luta pela reforma, na OCLAE e em campos como: economia, cultura e política fortalecendo os Governos constituídos em nosso continente com a defesa implacável da autonomia dos povos.

* Fonte do texto referência.
* Alcides dos Anjos Leitão (Jesus) é diretor de Relações Internacionais da UNE.

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